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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Me esquecer?


- E você acha que eu poderia esquecer? Logo ela, (...) a melhor de todas. A mais elegante, a mais dramática, a mais misteriosa e abençoada com aquela voz rouca que conseguia dar forma a qualquer sentimento, desde que fosse profundo. E doloroso (...) e era linda, tão linda. Uma parte dela estava no centro disso, chafurdando no lodo da paixão. A outra era uma deusa fria, longe de toda essa lamentável lama do humano buscando prazeres. Aquele rosto parecia esculpido em mármore branco, tão inatingível... Você pode achar que estou exagerando (...)

(Caio Fernando Abreu - Onde Andará Dulce Veiga)

domingo, 6 de junho de 2010


" De tanto não poder dizer,Meus olhos deram de falar.Só falta você ouvir."
(Alice Ruiz)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Fomos Perfeitos


Segurei sua mão antes de atravessar a rua.E de repente, pensei: acho que quero esse homem para sempre.
(...)
De mim você não esperou nada de elementar. De mim, eu sei, você sentiu saudade logo depois. Mas foi como num trecho de Lygia Fagundes Telles que o resto aconteceu.O meu “para sempre” virou um casamento com os mistérios. O seu “para sempre” eu nunca soube.Eu só sei que é do toque morno das suas mãos sobre meu rosto frio que eu me lembro…Toda vez que a temperatura cai.

(Cléo Araújo)

quarta-feira, 2 de junho de 2010


"Sinto sua falta a cada momento e nela vou conhecendo você melhor, seu jeito de ser está ampliado, seus defeitos parecem mais nítidos, suas qualidades ganharam mais cores e tudo em você ficou mais visível, mostrando até que seu espaço vazio me revira do avesso e que meu avesso me coloca de frente para você."

(Tati Bernardi)

terça-feira, 1 de junho de 2010

Só isso.


[...] Uma mulher não perdoa uma única coisa no homem: que ele não ame com coragem. Pode ter os maiores defeitos, atrasar-se para os compromissos, jogar futebol no sábado com os amigos, soltar gargalhada de hiena, pentear-se com franjinha, ter pêlos nas costas e no pescoço, usar palito de dente, trocar os talheres de um momento para outro. Qualquer coisa é admitida, menos que não ame com coragem.Amar com coragem não é viver com coragem. É bem mais do que estar aí. Amar com coragem não é questão de estilo, de gosto, de opinião. Não se adquire com a família, surge de uma decisão solitária. Amar com coragem é caráter. Vem de uma obstinação que supera a lealdade. Vem de uma incompetência de ser diferente. Amar para valer, para dar torcicolo. Não encontrar uma desculpa ou um pretexto para se adaptar, para fugir, para não nadar até o começo do corpo. Não usar atenuantes como “estou confuso”. Não se diminuir com a insegurança, mas se aumentar com a insegurança. Não se retrair perante os pais. Não desmarcar um amor pela amizade. Não esquecer de comentar pelo receio de ser incompreendido. Não esquecer de repetir pela ânsia da claridade. Amar como se não houvesse tempo de amar. Amar esquisito, de lado, ainda amar. Amar atrasado, com a respiração antecipando o beijo. Amar com fúria, com o recalque de não ter sido assim antes. Amar decidido, obcecado, como quem troca de identidade e parte a um longo exílio. Amar como quem volta de um longo exílio.Amar com sofreguidão, não adiando o que é véspera. Amar não disfarçando as mãos, amar com os fantoches das mangas. Amar como uma canoa engatinha na margem, árvore deitada de bruços. Amar quase que por, por bebedeira, amar sem dizer por que ama. Amar desavisado, com vírgula entre o sujeito e o verbo. Amar desatinado, pressionando a amar mais, a amar mais do que é possível lembrar. Amar com coragem, só isso.


(Fabrício Carpinejar)